Estão a acontecer coisa terríveis, no âmbito da assistência ao parto e pós-parto, em Portugal e no mundo, nestes tempos de pandemia. Restrições de direitos e garantias, manipulações, imposições contrárias a recomendações internacionais e evidências científicas.
A covid-19 parece funcionar como uma lente de aumento para aquilo que de pior (e também de melhor) cada sistema carrega. Infelizmente, o paradigma da assistência à gravidez, parto e pós-parto, em Portugal, apesar de todos os esforços de pessoas e organizações, nomeadamente da Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto (APDMGP), continua a ser marcado por um notório desrespeito pelos direitos humanos e por tiques patriarcais, paternalistas e até misóginos, assim como pela negação das evidências científicas e pela recusa das melhores práticas, a favor da conveniência, do lucro ou, simplesmente, da inércia e da resistência à mudança.
Por outro lado, quantos e quantas de nós não estamos mais do que preparados para abdicar da nossa liberdade e do nosso livre arbítrio, especialmente em tempos (mais) caóticos e incertos? Infelizmente, essa tentação é grande. É humano que assim seja, mas o fantasma do ditador a quem entregamos a nossa liberdade para alcançarmos proteção e segurança precisa de ser ultrapassado, se queremos crescer, como pessoas, como comunidade e como nação. É falso que sermos livres ou estarmos seguros é uma dicotomia mutuamente exclusiva. Quem apoia e protege de forma condicional não está a servir, está a dominar, e transformar os sistemas de dominação que ainda nos regem em estruturas igualitárias é um dos maiores e melhores desafios dos nossos dias.
A APDMGP tem-se esforçado, nestes dias conturbados, por criar e difundir informação e ferramentas que possam ajudar as mulheres e as famílias a fazerem escolhas informadas, serenas e reais, a partir de uma posição de poder pessoal e não de esvaziamento do seu protagonismo, naquele que é e continuará a ser um dos momentos mais importantes, tanto das suas vidas como das vidas daquelas/es ainda por nascer. Façam uso dessa informação e dessas ferramentas, que encontram AQUI, de forma empática, compassiva e generosa. Desejamos a todas as mulheres e famílias que estão na iminência de darem as boas-vindas a um novo ser humano uma experiência digna e respeitada.
Imagem- Getty images / revista Time
Isabel Valente – associada