Caixa de ferramentas gravidez, parto e covid-19

Nos últimos tempos, a APDMGP recebeu um número assustador de pedidos de ajuda e relatos de mulheres/casais, primeiro relativos à negação do direito ao acompanhante e, ultimanente, a induções e cesarianas programadas. A situação nos hospitais portugueses, (e encontramos exemplos desta situação tanto em públicos e privados) pode desde já ser desafiante em contexto de pandemia nacional, mas não menos preocupante é a forma com algumas instituições estão a escolher lidar com a situação.

A Organização Mundial de Saúde foi clara no seu Q&A relativamente à ligação entre a pandemia de covid-19 e a forma como os partos devem decorrer:

“As mulheres grávidas com suspeita ou confirmação de COVID-19 têm de dar à luz por cesariana?
Não. O conselho da OMS é que as cesarianas só devem ser realizadas quando clinicamente justificadas. O modo de nascimento deve ser individualizado e com base nas preferências da mulher, juntamente com as indicações obstétricas.” E quem diz cesarianas, diz induções.

Contrariando esta recomendação, bem como a extensa evidência científica, direitos humanos que são robustamente apoiados em legislação nacional e internacional e, mais importante que tudo, a vontade das mulheres, muitos hospitais estão a programar os seus partos, para melhor se poder agendar os testes de COVID-19 a todas as grávidas. Esta política está a assustar e indignar muitas mulheres/casais.

Os riscos associados às induções e cesarianas desnecessárias, sobre os quais podemos encontrar alguma evidência e bons recursos abaixo, são reais, comprovados e terão um efeito profundo na saúde de mães e bebés, assim como na experiência de partos das mulheres, que não, não são uma coisa menor:

Induction of labour in women with normal pregnancies at or beyond term – Biblioteca Cochcrane

Midwife thinking

The induction crisis continues (and what we can do about it)

Indicações reais e fictícias de cesariana

Long-term risks and benefits associated with cesarean delivery for mother, baby, and subsequent pregnancies: Systematic review and meta-analysis

Não desfazendo e reconhecendo o fantástico trabalho dos nossos profissionais de saúde, e os desafios enfrentados por todos os serviços neste momento, é muito importante que esta situação deixe de acontecer. As mulheres e suas famílias precisam nesta fase de mais humanização e cuidados individualizados, não de menos.

O QUE PODEM AS MULHERES FAZER:

Plano de parto. Mais do que nunca é importante prepararem e informarem-se das vossas opções. Recomendamos a leitura do nosso documento “Reflexão para a construção de um plano de parto:
https://associacaogravidezeparto.pt/wp-content/uploads/2016/08/Reflexão-para-a-construção-do-plano-de-parto-introducao.pdf antes de preencherem os “Modelos de Plano de Parto”: https://associacaogravidezeparto.pt/wp-content/uploads/2016/08/Preferências-para-o-parto-modelo-6.pdf

Enviem-no para os serviços atempadamente e imprimam e levem também convosco no dia do parto.

Minuta para acompanhar plano de parto. Modifiquem-na onde necessário e adaptem-na à vossa situação: https://associacaogravidezeparto.pt/wp-content/uploads/2020/04/Minuta_Covid_19_APDMGP.pdf

Façam-nos chegar situações de abuso e desrespeito que tenham sentido na assistência atual da vossa gravidez, parto e pós-parto. Todas as situações ficam registadas e serão utilizadas para moldar a atuação da APDMGP face às autoridades, assim como as nossas comunicações nesta fase: https://associacaogravidezeparto.pt/campanhas-e-eventos/apdmgp_reporte-situacoes-anomalas_covid-19/

– Vão ao Birth Advisor deixar a vossa experiência de cada hospital, para que mais casais/mulheres saberem do que se está a passar em cada Instituição de saúde: https://www.birthadvisor.pt

– Haverá nova formação online Direitos na gravidez e parto, a que se podem juntar

– Podem subscrever a tomada de posição da APDMGP, juntando a vossa voz à nossa, o que reforçará o seu peso junto de autoridades de saúde e decisores políticos

– Caso necessitem de orientação para efetuar uma reclamação podem entrar em contato com a APDMGP para apoio@associacaogravidezeparto.pt

A APDMGP continua atenta a esta situação e em contacto com as entidades competentes.

Créditos da ilustração de Itaiana Battoni