Tomada de posição APDMGP – Sobre as limitações aos direitos da mulher no parto e no puerpério em unidades de saúde em tempo de pandemia por COVID-19

A Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto (APDMGP) está vigilante e preocupada com o respeito pelos direitos das mulheres, bebés e famílias, nestes tempos conturbados para todas e todos. Inúmeras/os mulheres/casais grávidas/os relatam-nos preocupação, ansiedade e insegurança associadas à incerteza sobre os seus direitos no parto e no pós-parto em unidades de saúde. Para a APDMGP, é importante dar voz às inquietações das famílias e continuar a trabalhar junto delas de forma a fazer-lhes chegar alguma paz, tranquilidade, informação de qualidade e apoio, reconhecendo os constrangimentos crescentes que as/os profissionais de saúde enfrentam no exercício da sua prática profissional. 

Infelizmente, enfrentamos uma pandemia mundial, lidando com um vírus acerca do qual ainda pouco se conhece. Sabemos que o distanciamento físico e medidas que evitem o contacto entre pessoas podem ser comportamentos chave para o controlo desta pandemia. A informação científica disponível relativa a grávidas e recém-nascidos é escassa, havendo, contudo, alguma evidência de que transmissão vertical entre mãe e bebé parece não existir durante a gravidez e parto e que a infeção de grávidas e recém-nascidos não parece ter uma gravidade acrescida. 

Uma das situações mais relatadas e que maior ansiedade e indignação traz às mulheres/casais é a suspensão do direito ao acompanhante durante o parto e puerpério nos nossos hospitais – medida que já é praticamente transversal a todas as instituições de saúde públicas e privadas. Temos consciência de que a probabilidade de propagação do vírus é menor, se o contacto entre pessoas for também reduzido, diminuindo o risco e o número de pessoas infetadas. Esta não é apenas uma medida para proteger as mães e os bebés. É uma medida que vai proteger também as equipas de profissionais de saúde, que estão e estarão a enfrentar desafios também eles muito difíceis de prever. No entanto, num evento tão significativo e ímpar como é o nascimento de um filho, é imprescindível considerar também o impacto destas medidas nas experiências de parto e as consequências na saúde física e mental a curto, médio e longo prazo para a mulher e o/a bebé. 

No dia 18 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) disponibilizou recomendações específicas sobre COVID-19 e a gravidez e parto, onde se esclarece que a mulher deve poder optar por ter ou não um acompanhante da sua escolha presente durante o parto, mesmo tendo um diagnóstico de COVID-19, e que os profissionais deverão recorrer às estratégias necessárias para reduzir o risco de transmissão do vírus para si e para as/os outras/os, incluindo a higienização das mãos e a utilização de equipamento de proteção individual adequado. 

De facto, o apoio emocional e físico constante e ininterrupto durante o trabalho de parto e o parto é uma das recomendações da OMS, suportada pela evidência científica: a presença de uma figura de referência que a mulher conhece e em quem confia é essencial para que esta se sinta segura. Os direitos da mulher em Portugal são também claros neste sentido. O acompanhamento no momento do parto encontra-se regulado no artigo 16.º e 17.º da Lei 15/2014, de 21 de março, e pode ser limitado apenas em casos de situações clínicas graves. Por outro lado, a APDMGP é composta por pessoas de diversos quadrantes sociais e disciplinares. Temos contado com o feedback de vários profissionais de saúde que estão a trabalhar no terreno e conhecem de perto as dificuldades das equipas de vários hospitais portugueses. Para nós, é urgente que as condições de segurança e equipamento adequado sejam assegurados às/aos profissionais que estão em primeira linha e que são essenciais para apoiar as mulheres e as/os suas/seus bebés. 

Até ao momento, no que respeita ao acompanhante de grávidas sem infeção suspeita ou confirmada, as medidas e o grau de contingência adotado está ao critério de cada unidade hospitalar, não havendo uma orientação específica da Direção-Geral da Saúde (DGS). Embora compreendamos que situações excecionais exigem medidas excecionais, é importante dar resposta às dúvidas e inquietações das famílias e tentar compreender por que razão nem todos os serviços têm a mesma abordagem. Neste sentido, incitamos a DGS e as autoridades de saúde a reformularem e clarificarem quaisquer orientações que não sejam baseadas em evidência científica robusta, que apresentem divergências com as recomendações da OMS, e que não tenham em consideração as repercussões negativas decorrentes da sua implementação no estabelecimento do vínculo entre a mãe e o seu recém-nascido, na amamentação e na saúde e bem-estar emocional de ambos, como muita literatura científica resultante de pesquisas internacionais tem vindo a confirmar.

É imprescindível clarificar que o direito à autodeterminação e ao consentimento informado não foram revogados. A escolha é sempre da mulher, no pleno exercício dos seus direitos, em particular no que se refere à inseparabilidade dos pais e filhos, à luz do n.º 6 do artigo 36.º da Constituição. Entendemos ser também um dever das autoridades de saúde dotar as mulheres, as famílias e as/os profissionais de informação adequada e contextualizada, reduzindo a incerteza e as desigualdades que atualmente se verificam. 

Na APDMGP, continuaremos a prestar apoio direto às mulheres e famílias na gravidez, parto e pós-parto. No que estiver ao nosso alcance, estamos à disposição para colaborar com as autoridades de saúde. 

31 março 2020
A APDMGP

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Caso queira juntar a sua voz à nossa, em nome individual e/ou da sua organização, pode subscrever a tomada de posição AQUI. Quantas/os mais formos, mais força teremos perante as autoridades, decisores e opinião pública.

SUBSCITORAS/ES DA TOMADA DE POSIÇÃO (que autorizaram a divulgação do seu nome)

Isabel Cristina Marrafa Valente

Veganesh Loving Food

Cristiana Galileu da Rocha

Débora Sofia Rodrigues da Silva

Ana Rita Carvalho Baptista Matos Parreira

Nuno Rodrigo Andrade Tavares Pires

Luisa Vaz

Maria João Correia Nunes

Carla Maria Pereira da Silveira

Inês Silva Santos Ferreira Guimarães

Claudia Pinho Coelho

Centro de Cuidados Pré e Pós Parto- O Ninho do Bebé

Carla Amaro

Inês Rita Palmeiro de Almeida

Ana Neves

Ana Catarina Ferreira Pacheco Barbosa

Susana Esperança Fernandes Lopes Luís

Aline Santos Gimenez

Ana Luísa Freixial Vasques

Mónica Daniela Falé Rosado

Catarina Caetano Lopes Ferreira da Silva

Leonor Duarte Borda de Água

Catarina Andreia da Silva Crispim Moita

Sofia Moura

Joana Maria Martins Rodrigues

Júnia Flor Falcão Ferreira de Lima Barbosa

Raquel Filipa Marinho Leal Pinto

Filipa Alexandra Estevão Correia

FamilyLife Portugal (Agape Portugal)

Sara Cristina Martins dos Santos

Carla Alexandra dos Reis Soares

Ana Carolina figueira Prelhaz

Débora Ornelas Fino

Joel Alves Castro

Tânia Silva – hospital e Braga

Ana Luisa Vilalonga Martins Horta Pereira

Catarina dos Reis de Carvalho

Ana Rita Rodrigues Martins

Vera Lúcia Duarte Louro

Rita Filipa Marques Magalhães

Carla Filipa da Cunha Pereira

Joana Mateus Jorge

Filipa Andreia Ferreira Gonçalves Mateus

Ana Rita Guerreiro Cabrita Correia

Marília Pereira

Eliana João Teixeira Xavier Faria

Graça Maria Soares Góis Pereira Gonçalves

Graça Maria dias lopes

Luís André Fonseca Ferro

Carla Sofia Marques Vitorino

Mayana Xavier

Ana Margarida Aleixo de Lacerda

Marjorie Sa

Patrícia Raquel da Silva Navega

Luís Carlos Morais Ferreira

Cíntia Alexandra Oliveira Leonor Ferreira

Telma Capítulo Fernandes

Maria Carolina Coutinho de Lucena Martinho

Raquel Maria Simões Correia

Ana Patrícia Ribeiro Novais

Rosana Filipa da Silva Dias

Anna Lúcia Adrego

Andreia Rosa Rodrigues da Cruz

Leonardo Gonçalves Carneiro

Sofia Alexandra da Costa Inácio

Volodymyr Batyuk

Ana Sofia da Silva Guerreiro Trindade

Vanessa Andreia Pires de Oliveira

Volodymyr Kotovych

Cátia Alexandra Pereira Costa

Associação portuguesa dos consultores de lactação certificados APCLC | IBCLC

Ana Lúcia Esteves Torgal

Maria Segura

Catarina Martins Ascensão

Margarida Sousa

Inês Anjo

Inês Fortunato

Mário JDS Santos

Mariana Torres

Carolina Coimbra

Catarina Barata

Violeta Mandillo

José Grossinho

Pauline Ferreira Ribeiro dos Santos

Marta Lima – Nascimento Consciente

Susana pereira

Luís Miguel Dantas

Márcia Lança

Francisca Fernandes

Ana Paula Andrade Fundo

Ana Isabel Barbosa Patrício

Liliana Andrade

Inês Pontes

Rita Silva

Luís Pontes

Isabel Simões

Anna Pinhejro

Maria Sacramento

Analisa Correia

Helena Ferreira

Ana Ramos

Tânia Carvalho

Ana Isabel Marques Sebastião

Inês Azevedo

Marta Cardoso

Joana Claudino

Patrícia

Catarina

Veronica Silva

Paulo Silva

Mariana Falcato Simões

Susana Gonçalves Gaspar

A Coletiva

Márcia Luz

Laetitia Nortier

André Jácome

Veronica Domocos

Laylla Coelho

Marta Machado

Ana Catarina Fernandes Araújo

Carla Andreia Pereira Marques

Patricia Soutinho (O Ninho do Bebé)